Família Gramacho

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Missão Abaixo de ZERO! SUBZERO Mission!

terça-feira, 11 de agosto de 2015

O TEMPLO "MISTERIOSO"!

Já perceberam como o "desconhecido" fascina e atrai o homem ao longo dos séculos? Milhares de pessoas sedentas por "breaking news" buscam freneticamente satisfazer sua curiosidade sobre aquilo que a princípio está oculto ao entendimento? A indústria cinematográfica é especialista em explorar esse aspecto obscuro da natureza humana. Não sou Indiana Jones, mas também conheci um "TEMPLO MISTERIOSO" na Mongólia. Descubra esse segredo...

Após um rotineiro dia de aulas de mongol (minha primeira semana), saí determinado a conhecer o templo que vejo todos os dias quando chego e saio da escola. Da minha sala de aula, só conseguia enxergar parte dele, em especial o seu bonito telhado coberto de neve. Parecia ser muito imponente e tinha um certo ar de mistério. Como não conhecia o caminho e estava me aventurando propositalmente sozinho tive que explorar a região até encontrar o local. Não foi tão fácil quanto eu pensava. Entrei em vários becos e vielas cheias de Gers, o cheiro de fumaça que exalava das chaminés era muito forte e característico. Durante o inverno, além do título de capital mais gela do mundo, Ulaanbaatar também se torna um dos lugares com maior poluição atmosférica, justamente devido a necessidade de aquecimento. Muitos andam com máscaras no rosto para preservarem a saúde. As pessoas me olhavam espantadas, e até certo ponto meio desconfiadas com minha presença pois não é muito comum ver estrangeiros nesta região, principalmente sem a companhia de um local, já que praticamente ninguém sabe falar inglês para lhe dar algum tipo de informação.



Muro sem fim...

Achei a entrada, ou melhor, uma delas!


Finalmente após quase 1 hora de caminhada perdido num “labirinto” com muito gelo e lama, percorrendo um muro que não acabava mais, encontrei o que tanto procurava, mas esperem, para minha surpresa o local não era apenas um simples templo, e sim um verdadeiro complexo budista, um monastério com vários templos, estulpas e até uma escola para os monges. Na verdade, trata-se do maior monastério budista do país, o Гандан (Gandan) Monastery. Fiquei totalmente fascinado com aquela cena. Me senti como alguém que havia sido transportado para outro período da história, como se estivesse dentro de um filme (quase um Brad Pitt em “7 anos no Tibet” rsrsrs #sqn). Parecia que o tempo havia parado por ali. Simplesmente tudo que via, ouvia e sentia (os indescritíveis cheiros) era surreal para os olhos, ouvidos e nariz não treinados de um cristão ocidental.




Gandan Temple, o Templo Principal do complexo budista



Depois de alguns minutos, após me recuperar do choque inicial, de forma muito sutil comecei intencionamente a observar as pessoas e o local em si. Primeiro me assentei em um banco num local estratégico quase no centro do complexo budista, em uma espécie de praça, próximo ao templo principal. A maneira como as pessoas estavam vestidas, as orações, oferendas, formas diferentes de prostração (muitas se deitavam), as imagens, a arquitetura peculiar, as cores, as músicas, era tudo novo e eu estava muito curioso para compreender um pouco mais sobre elas. Fiquei cerca de 1 hora em silêncio só observando, buscando evitar qualquer tipo de julgamento ou análise precipitada, meu único objetivo era me familiarizar e aprender um pouco das crenças, práticas e costumes do povo a quem eu vim servir. A primeira impressão que tive foi que era um lugar onde as pessoas iam geralmente acompanhadas da família, um clima amistoso. Um lugar muito tranquilo e que de fato inspira a devoção religiosa. Aproveitei aquela “hora tranquila” para orar a Бурхан (Burkham, Deus em mongol, algumas vezes utilizada para referir-se a Buda) pedindo sabedoria e discernimento espiritual no contato com essa nova e desconhecida cultura e principalmente no trato com o povo. Voltei para casa ainda impactado com aquela experiência transcultural.


Templos adjacentes


Estilo tibetano-mongol

Estulpa


Pranchas para oração. Os devotos deitam de bruços sobre elas

Interior de um dos templos

Imagem de Buda

Mandala Tibetana


Rodas de oração (escrituras budistas dentro dos cilindros dourados)

Figura que representa um guardião

Monges em momento litúrgico, entoando mantras. por horas a fio.

Outro portal adjacente



Vista do Templo principal. Dentro há uma estátua dourada gigante do Buda.



No dia seguinte, após a aula retornei ao templo, agora mais seguro. Dessa vez me senti mais à vontade entre os adoradores locais que para ali concorriam. No dia anterior só observei, mas decidi que agora iria colocar em prática o meu mongol de quatro dias de aula, me achando rsrsrs. Se eu queria de fato entender a cosmovisão e os valores que estão por trás daquelas práticas religiosas enigmáticas e complexas, precisava me misturar com o povo. Não apenas aprender "sobre" eles, mas principalmente aprender "deles" e "com" eles! Pedi orientação divina e comecei a circular entre as pessoas. Pra minha surpresa fiz bons contatos logo de cara. 

Um homem bêbado arranhando no inglês me surpreendeu perguntando diretamente se eu orava a Jesus. Eles geralmente associam todo ocidental com o cristianismo, o que a princípio pode parecer bom, mas que na verdade cria uma certa barreira inicial, pois o evangelho acaba sendo visto como uma religião estrangeira, quase uma ferramenta de colonização e domínio. De certa forma essa suspeita tem fundamentos históricos. Infelizmente, no passado, muitos missionários cristãos ao invés de pregarem o evangelho acabavam pregando sua própria cultura e costumes ocidentais. Ao invés de conhecerem primeiro o povo para aí sim encontrarem as pontes e janelas culturais para a comunicação da mensagem de forma inteligível e relevante para aquela cultura (como fazia o apóstolo Paulo, cf. 1Co 9:19-22), acabavam julgando tudo daquela cultura como errado, demoníaco e assim, catequisavam os nativos com uma abordagem impositiva, sem considerar sua cosmovisão, o que gerou efeitos negativos como o sincretismo religioso que vemos tão internalizado no povo brasileiro por exemplo. As pessoas acabavam seguindo uma doutrina por costume ou tradição, mas nem sequer sabiam as reais razões, princípios e valores da sua fé. Isso gera uma dicotomia entre a vida religiosa e a vida secular, como se as duas coisas fossem distintas: "Minha religião é essa, mas a minha vida é outra". Isso não faz nenhum sentido na mentalidade oriental que enxerga a vida e a religião como uma coisa só, exatamente como a Bíblia ensina. Ser cristão não é seguir um conjunto de regras, mas sim seguir uma pessoa (Jesus) e viver um estilo de vida coerente com a mensagem que se prega.


Voltando aos contatos... Um homem que estava próximo de uma estulpa com seu filho foi muito simpático comigo . Eles sorriram para mim, me aproximei deles e me apresentei em mongol, perguntei o nome deles (Dzaya e Bombaim), a idade do menino (7 anos), disse de onde eu era, falei da minha família, enfim, gastei tudo que havia aprendido na primeira semana de aula. Tiramos fotos, gravamos um vídeo e aproveitei para perguntar a criança se ela acreditava em Burkhan (Deus), disse a ele que Burkhan veio à Terra, nasceu como uma criança e se chamava Jesus. Ele sorriu de forma muito pura e sincera e disse ЗА ЗА (DZA DZA), o que significa que ele estava concordando. Foi a primeira vez que falei de Jesus dentro de um contexto budista. Peguei o telefone deles para contatos futuros. Por favor, orem por essa família.

Pai e filho. Primeiro contato com uma família budista na Mongólia 


Meus novos amigos monges. Os "caras" me receberam muito bem! #selfie


Conheci também alguns monges bem jovens e também o Лам, Lama (o mestre) deles. Fiquei aguardando mais de uma hora pra falar com ele, pois o mesmo estava atendendo uma família budista. Observei a cerimônia com atenção e respeitosamente. Ele leu vários textos sagrados, fez algumas orações em tom de mantra, aspergiu a criança com alguma coisa que parecia grãos de arroz e bateu palmas. Não entendi nada do que estava acontecendo, mas parecia que as família procuram os monges para pedirem uma espécie de benção. Detalhe, notei que no final elas deram algum dinheiro pra ele, mas não consegui ver quanto foi a quantia. Uma espécie de oferta. Já havia um outro rapaz aguardando pra ser atendido, mas como fiz amizade com ele enquanto esperava, o mesmo gentilmente permitiu que eu conversasse primeiro com o mestre (não furei fila tá? rsrsrs). Ele me recebeu muito bem, falava inglês razoavelmente. Me fez algumas perguntas do tipo, porque eu estava ali, qual o meu interesse, no que eu trabalhava... nesse ponto específico disse que também era um professor religioso assim como ele, mas que gostaria de aprender um pouco mais sobre a filosofia budista. Marcamos de conversar no domingo seguinte. Agradeci a acolhida saí dali mulito empolgado com esse contato inicial, afinal tratava-se de uma pessoa de muita influência no monastério. Deus estava no controle!



Pequeno pupilo em busca de iluminação. Disse Jesus: EU SOU A LUZ DO MUNDO!



"Porque, sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos para ganhar ainda mais. E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivesse debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei. Para os que estão sem lei, como se estivesse sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei. Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns. E eu faço isto por causa do evangelho, para ser também participante dele." (Apóstolo Paulo, 1Coríntios 9:19-23)